sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O que ela achava

Ela era uma pessoa que não era muito de falar. Ela gostava é de conversar. Gostava mesmo. Falar sobre assuntos com pé e cabeça ou dividir o que pensa. Ela não conseguia, ou não sabia, dividir coisas banais. Pois se algo era banal, não via motivos para ser dividido com alguém. Achava que algo digno de ser compartilhado era algo que iria acrescentar ou na vida dela ou na do ouvinte. Não sabia nem dividir coisinhas de casal com o namoradinho, pois não sabia o que era bonitinho de ser dividido com o namoradinho. E era por isso que vivia prestando atenção em conversas de casal: pra tentar entender o que é tão bobo e interessante que tanto se diz num namoro. Talvez fosse a vida deles que fosse mais interessante que a dela. Com o outro namoradinho, era sempre silêncio. Ou falta de assunto. Pensando bem, era falta de assunto mesmo. É que na concepção dela, silêncio é quando você pode compartilhar o mundo, mas prefere sentir as batidas do coração, ou compartilhar o mundo de um jeito que não envolva palavras. Mas falta de assunto é quando você gostaria de compartilhar qualquer coisa pra ter o que falar, mas não sabe o que dizer.
Ela vivia na esperança de aparecer alguém cujo ela pudesse falar por horas a fio, ou ficar completamente em silêncio; e em ambos os casos ser inteiramente compreendida. Pra ela, a melhor das palavras era aquela que ensinava o outro a entender seu silêncio; apesar de, conscientemente, nunca ter tecido um manual de instruções pra isso (até porque, seria um paradoxo se o fizesse). Achava que as melhores palavras, as melhores conversas não saiam pela boca, mas pelo olho. E achava mais, achava que era exatamente por isso o fato de termos dois olhinhos e uma bocona.

É que falamos pouco por onde realmente deveriamos falar.

Um comentário:

Najla Salih disse...

Casais... Sempre bobos