quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Sem despedidas

No meu blog tem pornografia, e no seu?
                  
Toda manhã era a mesma coisa, a mesma paralisia cerebral. Tomava seu café forte, acendia seu gudang e fazia carinho no cão. Algumas roupas rasgadas, uma sandália maior que o pé, e uma dor de cabeça infernal.
O vazio no teu peito pela falta dele era normal, mas estava deveras acentuada pelo fato dele estar na cidade.

Naquela manhã, ela decidira por conta própria que as coisas iriam começar a mudar, e ela iria conversar com ele e fazer as coisas voltarem ao normal, como se nada tivesse acontecido . Tomou um banho demorado, comeu algo legal, vestiu roupas decentes e foi pra rua andar. Caminhou entre postes altos, pessoas tortas, bonitas e estranhas. Acendeu outro cigarro e decidiu que iria retocar sua tatuagem do pulso esquerdo. E assim o fizera. A tatuagem nem estava desbotada, ela retocou apenas por que precisava sentir algo forte antes de encontrá-lo. Sentir algo que a fizesse vibrar, chorar; que a mostrasse que ainda era humana, ainda era sensível, ou pelo menos, que sua pele ainda era sensível. Não teve dinheiro pra pagar o retoque, mas não tinha problema enquanto ela tivesse em si a melhor moeda de troca de todos os tempos. Saiu dali e foi encontrar quem causava todo esse transtorno. Mandou uma mensagem dizendo a hora e o local do encontro, quase mendingando atenção. Para o seu espanto, ele foi. Conversaram por longas horas, repararam um no outro como seus rostos estavam envelhecios, como a voz estava mais grave, os olhos mais caídos. E finalmente, depois de muito transpirar pelas mãos, ela se abriu. Falou o quanto ainda o amava, o quanto sentia a falta de fumar e beber café com ele, o quanto suas noites de sábado estavam vazias. Confessou a falta que ele fazia na cama e o quão ela estava arrependida por tudo. Falou até mesmo da disposição que tinha de ser completamente diferente no relacionamento. Ele calou-se, fitou-a, e tirou da mochila um papel dourado - e foi nesse momento que ele deixou escorrer uma lágrima, não por ele, mas por ela. Ela perguntou o que aquilo significava, e ele disse que era exatamente o que ela estava vendo; era um convite do seu casamento, e completou dizendo: "achei que já tivesse superado isso, até por que, já se passaram oito anos desde a nossa separação".

Ela foi pra casa, acendeu seu gudang, colocou uma música triste, e percebeu que tudo estava exatamente como ela havia deixado.

2 comentários:

Tay. disse...

Adoro contos com finais tristes. Você escreve bem, Luísa. Virei aqui mais vezes. Parabéns :)

Najla Salih disse...

uau. Amei