quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Crepúsculo

Ela andava pela rua, vagante a pensar, vagabunda por tudo que já fez e com remorso pelo que está a fazer. Mas ela se nega a pensar que seja assim, se nega a acreditar que seja suja e imoral, se nega a acreditar que no mais intimo de sua alma não haja ainda uma garota pura e carente que só necessita ser amada. Então ela continua andando pela rua, o crepúsculo já aparecendo e o vento cada vez ficando mais frio. Ela já não é mais ela, já começa a ser cada vez mais aquilo que aquela pessoa tão importante na vida dela disse em um dia de inverno, começa então a ser mais e mais suja, mais pela forma que sentia do que pelas suas atitudes propriamente ditas. Mas ela não está totalmente perdida, ainda há esperança se ela quiser que haja, mas ela balança a cabeça dizendo que não. Uma lágrima rola, talvez ela não queira ser apenas uma garota carente, que nunca foi amada, ela quer mais, ela precisa de mais, ela acha que é menos doloroso, apesar de ainda muito, ser má, suja e hipócrita do que uma criancinha que todos zombam e chateiam, tornando suas feridas do passado ainda mais dolorosas e insuportáveis. E depois daquela terça-feira à tarde, depois de ouvir o que talvez não necessitasse, apesar de ter ouvido por insistência, ela, muda de opinião, e agora não lhe parece tão má a ideia de feri-lo. Não, ela não quer ser freira, ela não quer ser puta, mas ela não sabe o que existe entre o 8 e o 80, ela não sabe o que ainda existe no mundo e na mente dos que a rodeiam, nem mesmo na dela, ela ainda não sabe de nada, nem mesmo quem ela é. Ela para, ela olha para o alto, se ajoelha diante do crepúsculo e chora terrivelmente. Vem um caminhão em alta velocidade e a atropela, coitada. Ela morre esmagada

Um comentário:

Najla Salih disse...

Já não havia mais nada.
Mesmo não estando mais ali, o crepusculo enfim viraria noite, e a dúvida continuaria.
Ali a sua vida acabou, mas o mundo continuaria independente de cada drama que ela vivesse.